Rafael Braga

O efeito do defeito

Existe uma mulher de uma beleza divina. Muito invulgar. Era a mulher mais bela alguma vez conhecida. Porém não era a sua personalidade, nem tão pouco o aspecto que atraía as pessoas em sua volta, indubitavelmente. A sua vida fora tornando-se diferente. Diferente daquilo que planeara. O erro estava no seu corpo. Por fim entendera, após uma manhã ter acordado totalmente desconhecida. Os problemas, então, começaram.

O efeito do defeito

Existe um rapaz de uma sensibilidade sobre-humana. Muito invulgar. A sua infância fora sossegada e tranquila, enquanto os seus sentidos se estimulavam durante o seu crescimento. Ao início era uma aventura, era uma descoberta. A sua audição era fantástica. A sua visão era mais que periférica. Até ter-se tornado motivo de troça dos seus amigos. Mais tarde sentia-se indisposto. O seu olfacto era preciso, demasiado desconfortável. O seu paladar privava-o de refeições normais. Mas nem todos os sentidos eram físicos. O rapaz descobriu o quão terrível se pode tornar um sentimento.

O efeito do defeito

Existe um homem muito diferente. Muito invulgar. Escondido da sociedade. Vive isolado há muitos anos. Vive protegendo de si próprio. É demente. Espera por algo ou alguém que sabe que jamais surgirá. Vive consumido pela esperança. Até um dia o terem encontrado. Surpreso. Sem reacção. O seu sonho tornou-se realidade. Ele não era mais demente. A confusão inublada abriu-se-lhe nos céus e a luz aclarou-lhe a verdade. Mas as suas emoções continuavam a induzirem-se nas pessoas como doenças contagiosas.

O efeito do defeito

Existe uma rapariga de um poder imenso. Muito invulgar. A sua rotina é confusa e facilmente alterável. Nascera vinte anos após ter conhecido o amor do seu destino. Essa fora a sua primeira viagem. Sem razão alguma a sua vida retomou o presente. O desgosto corrumpeu-lhe a felicidade e levou-a a percorrer vários caminhos, várias vidas e costumes, vezes sem conta. Aprendera a controlar a sua maldição. Mas apercebera-se que, por mais que volte atrás, o destino tem sempre um fim; que o tempo só cura a infelicidade se ele correr como um rio.

O efeito do defeito

Existe um rapaz capaz de um milagre próprio. Muito invulgar. O de regenarar as suas próprias feridas. Num incêndio em sua casa, o seu corpo ficara carborado pelas chamas em sessenta porcento. Os seus pais faleceram. Duas semanas mais tarde, o seu corpo sarou completamente, nem uma cicatriz. Mas isso não o surpreendeu. O seu coração continuava queimado pela perda.

O efeito do defeito

Existe um rapaz que possui desde pequeno um enorme controle da sua mente. Muito invulgar. Sempre soubera que era o único capaz dessa proeza por natureza. Tirara partido durante o seu crescimento, na sua educação, nas amizades e até no amor. Mas a sua personalidade fazia jus às óbvias estranhezas. Tornou-se menos sociável à medida que o seu controle aumentava. Com um outro "mundo" a seu lado, inconscientemente que os seus próprios sonhos criaram, viveu na linha tênue entre a realidade e a imaginação.

O efeito do defeito

Existe um menino dotado de uma capacidade. Muito invulgar. Perdera a sua família num acidente com apenas dois anos de idade. Crescera com a tia que cuidara dele como uma mãe. Vivera com ela até, infelizmente, ela ter adoecido e falecera perante ele. Nesse dia, espantosamente, ele falou pela primeira vez com os seus verdadeiros pais. Sentiu o amor deles penetrar o seu peito à medida que desesperava por abraça-los. O menino agradeceu a benção e tornou-se esperançoso.

O efeito do defeito

Existe uma rapariga com um espantoso dom. Muito invulgar. Durante a sua adolescência tivera dificuldade em aceitar o facto de ter perdido a audição; Jamais ouviria as vozes das pessoas que amava, as suas músicas preferidas, nem a natureza em seu redor. A certa altura da sua vida algo mudou. Ouviu uma voz ao fim do túnel. Nesse dia a rapariga descobriu como ouvir o interior das pessoas e sorriu.

Não consigo descrever a liberdade que senti apenas ao assistir.

 

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