Rafael Braga

Asas de Papel

O tempo faz de mim um prisioneiro. O meu corpo é um fato laranja identificado pelo meu rosto insultado, tal e qual um código de barras. A vida é a minha cela privada de quatro paredes.
Liberdade, esta, materializada, não me diz respeito. Trata-se de uma mera ideia, um rêles sonho de um humano comum. A minha liberdade está para além do espaço. Está para além de qualquer teoria radical.
A minha liberdade é o meu pensar. É o meu descobrir. É o meu fantasiar, criar e escrever; é o arrancar das minhas entranhas a mais calorosa paixão e disfarçar este código que é o meu rosto pela satisfação que é o meu coração. Dar o meu melhor pela pessoa que está presa comigo.
A minha liberdade é o meu par de asas. É a minha invisível e infalível fuga de prisões que me rodeiam. Das minhas iludidas esperanças, dos meus desejos humanos traídos, da minha inevitável morte e da minha benevolência.
... o meu calcanhar de Aquiles. O meu fraco ponto feito de gelatina. A minha desleixada barreira de papel. A minha irreversível e imensa empatia pelos sentimentos e direitos dos outros, a luta incontestável e infinita pelos factos inequívocos. A inadmissivel repelência de traições, conspirações e desconfianças da minha mente. E é esta maldição, perante os mais abusadores que encontram em mim uma forma de controlar-me, que me retira a liberdade.
Mas um dia morrerei definitivamente e serei condenado para todo o sempre!
Serei sempre asas de papel!

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