O efeito do defeito - Maria
Parte 7
_____________________________________________________________________________________
- Tarde 10 de Janeiro -
- E o que a mãe iria pensar de ti, Carolina? - perguntou Maria tocando a irmã.
Carolina fez uma pausa com os olhos postos na almofada.
- Eu sei que ainda não entendes, mas um dia irás, que existem pessoas que por vezes não compreendem as situações diferentes pelas quais não estão a passar.
Maria lembrou Mateus. Da misteriosidade dele em particular.
Carolina abraçou-se à sua irmã.
- Percebes? Não podes mostrar às pessoas que és mais forte que elas. Porque elas não o são e por isso vão te fazer sentir diferente. Muitas delas troçam e só querem o mal da inveja. Eu sei que a mãe não é assim, mas, mais cedo ou mais tarde tu irias contar a todos os amigos da escola e foi melhor assim.
- Então para que tive tanta força de manhã? - perguntou a pequena, triste.
Maria encolheu os ombros e expressou-se com uma interrogação. "Porque haveria de ter tido a mesma força que eu de manhã e agora não?" - questionou-se - "E de onde viria? E de onde vem a minha? Como é possível? Devo experimentar se ainda... e também tenho força?".
- Sim? - perguntou Carolina.
Maria tinha-se distraído com os seus pensamentos.
- Não percebi, mana.
- Quero sair e passear - repetiu Carolina.
Maria pensou e sorriu.
- Vamos então até ao parque. Combinado?
Carolina levantou-se da cama e puxou pela mão da irmã. Ambas desceram as escadas até à sala de estar. Sentado, Bernardo lia o jornal descontraído, de perna cruzada e casaco pendurado nas costas do sofá. Preocupada, a mãe apareceu vinda da cozinha.
- Que passou, filha? - perguntou a mãe.
- Nada, mãe. Ela só quer ir passear um pouco - disse Maria.
- Querem que o Bernardo vos leve?
Sem hesitação alguma, Carolina apertou a mão de Maria.
- Não é necessário, mãe - respondeu Maria.
Sairam de casa e seguiram a pé até ao centro da cidade. Pelo caminho conversaram.
- Porque é que o pai não está mais connosco? - perguntou Carolina.
Maria tentou ignorar ao princípio.
- Teve que ir embora... - respondeu.
- Sim, mas porquê?
- Porque a mãe já não gostava dele e tinham muitos problemas juntos.
Maria desviou o olhar. Carolina continuou a olhar em frente a pensar. A rua inclinava numa subida íngreme. No final, havia um cruzamento. Viraram à esquerda e desceram para o centro. O parque estava perto.
- Eu gostava mais do pai - disse a pequena.
"Eu também.", pensou Maria - "Mas ele tinha mudado tanto..."
- Achas que o voltaremos a ver? - perguntou Carolina.
- Um dia, talvez - respondeu Maria encolhendo os ombros.
- Ainda gosta de nós?
Maria voltou-se para a irmã e sorriu.
- Sim, ainda gosta de nós. É o nosso pai.
- É que eu não gosto do Bernardo, faz-me ter medo.
- A mim também. É duro, mas não é má pessoa.
- Porque é que a mãe o levou para casa? - perguntou a pequena.
- Foi a decisão dela. Não queria tomar conta de nós sozinha.
- Podia ter encontrado alguém mais simpático...
Maria sorriu. O parque ficava ao fundo da avenida e bastava-lhes atravessar a rua. Nesse momento um automóvel preto estacionou à frente de ambas, assustando-as.
- Mais cuidado! - gritou Maria.
O condutor saíu do carro calmamente. Olhou-as e inclinou-se.
- Peço imensa desculpa por vos ter assustado, não era a minha intenção - disse gentilmente.
Carolina observou com atenção o homem alto e vestido de negro e sorriu para ele. Em resposta, o homem acenou-lhe com a mão.
- Dá-me a mão. Vamos - pediu Maria, entrando pelo parque.
- Acho que conheço aquele senhor... - disse Carolina olhando ainda para trás.
- Sim? De onde?
- Do Hospital - disse sorrindo.
Continuaram a passear pelo parque. Lancharam juntas num café e sentaram-se nos bancos do jardim a comer gelados. O dia estava calmo e suave.
- Tiveste muito medo no Hospital? - perguntou Maria.
- Não. A enfermeira era simpática e estava sempre comigo - riu.
Maria observou-a. Pensou para si própria como a sua irmã crescia. E como o tempo passava.
- Ela disse que eu fui atropelada por um carro, mas eu não lembro.
- É normal - confortou Maria acariciando o rosto da irmã.
- Ela também disse que sou muito forte - pausou e continuou - Será que ela sabia?
- Ela não se estava a referir a essa força, mas sim à da vontade. Quis dizer que és forte por dentro - Maria piscou o olho.
- Tu também és muito forte, mana - disse a pequena.
Ambas terminaram o gelado e levantaram-se dos bancos. De volta, pelo mesmo caminho, Maria distraíu-se enquanto que um rapaz cheio de roupa e de pressa embateu sem querer nelas. As roupas espalharam-se pelo chão. Umas chaves de automóvel caíram sobre os pés de Carolina.
- Peço imensa desculpa - disse Maria.
- Não... faz mal - balbuciou ele.
Carolina agachou-se e apanhou as chaves. Aproximou-se do rapaz e entregou-lhe-as. Maria sorriu para sua irmã e olhou para o rapaz.
- Obrigado... - agradeceu ele.
Sem explicação alguma, o rapaz agarrou as suas roupas violentamente e desapareceu a correr pelo caminho em segundos.
"Que estranho.", pensou Maria.
- O que tinha ele, mana? - perguntou Carolina.
- Pressa, muita pressa - disse - Vamos para casa.
_____________________________________________________________________________________
- Tarde 10 de Janeiro -
- E o que a mãe iria pensar de ti, Carolina? - perguntou Maria tocando a irmã.
Carolina fez uma pausa com os olhos postos na almofada.
- Eu sei que ainda não entendes, mas um dia irás, que existem pessoas que por vezes não compreendem as situações diferentes pelas quais não estão a passar.
Maria lembrou Mateus. Da misteriosidade dele em particular.
Carolina abraçou-se à sua irmã.
- Percebes? Não podes mostrar às pessoas que és mais forte que elas. Porque elas não o são e por isso vão te fazer sentir diferente. Muitas delas troçam e só querem o mal da inveja. Eu sei que a mãe não é assim, mas, mais cedo ou mais tarde tu irias contar a todos os amigos da escola e foi melhor assim.
- Então para que tive tanta força de manhã? - perguntou a pequena, triste.
Maria encolheu os ombros e expressou-se com uma interrogação. "Porque haveria de ter tido a mesma força que eu de manhã e agora não?" - questionou-se - "E de onde viria? E de onde vem a minha? Como é possível? Devo experimentar se ainda... e também tenho força?".
- Sim? - perguntou Carolina.
Maria tinha-se distraído com os seus pensamentos.
- Não percebi, mana.
- Quero sair e passear - repetiu Carolina.
Maria pensou e sorriu.
- Vamos então até ao parque. Combinado?
Carolina levantou-se da cama e puxou pela mão da irmã. Ambas desceram as escadas até à sala de estar. Sentado, Bernardo lia o jornal descontraído, de perna cruzada e casaco pendurado nas costas do sofá. Preocupada, a mãe apareceu vinda da cozinha.
- Que passou, filha? - perguntou a mãe.
- Nada, mãe. Ela só quer ir passear um pouco - disse Maria.
- Querem que o Bernardo vos leve?
Sem hesitação alguma, Carolina apertou a mão de Maria.
- Não é necessário, mãe - respondeu Maria.
Sairam de casa e seguiram a pé até ao centro da cidade. Pelo caminho conversaram.
- Porque é que o pai não está mais connosco? - perguntou Carolina.
Maria tentou ignorar ao princípio.
- Teve que ir embora... - respondeu.
- Sim, mas porquê?
- Porque a mãe já não gostava dele e tinham muitos problemas juntos.
Maria desviou o olhar. Carolina continuou a olhar em frente a pensar. A rua inclinava numa subida íngreme. No final, havia um cruzamento. Viraram à esquerda e desceram para o centro. O parque estava perto.
- Eu gostava mais do pai - disse a pequena.
"Eu também.", pensou Maria - "Mas ele tinha mudado tanto..."
- Achas que o voltaremos a ver? - perguntou Carolina.
- Um dia, talvez - respondeu Maria encolhendo os ombros.
- Ainda gosta de nós?
Maria voltou-se para a irmã e sorriu.
- Sim, ainda gosta de nós. É o nosso pai.
- É que eu não gosto do Bernardo, faz-me ter medo.
- A mim também. É duro, mas não é má pessoa.
- Porque é que a mãe o levou para casa? - perguntou a pequena.
- Foi a decisão dela. Não queria tomar conta de nós sozinha.
- Podia ter encontrado alguém mais simpático...
Maria sorriu. O parque ficava ao fundo da avenida e bastava-lhes atravessar a rua. Nesse momento um automóvel preto estacionou à frente de ambas, assustando-as.
- Mais cuidado! - gritou Maria.
O condutor saíu do carro calmamente. Olhou-as e inclinou-se.
- Peço imensa desculpa por vos ter assustado, não era a minha intenção - disse gentilmente.
Carolina observou com atenção o homem alto e vestido de negro e sorriu para ele. Em resposta, o homem acenou-lhe com a mão.
- Dá-me a mão. Vamos - pediu Maria, entrando pelo parque.
- Acho que conheço aquele senhor... - disse Carolina olhando ainda para trás.
- Sim? De onde?
- Do Hospital - disse sorrindo.
Continuaram a passear pelo parque. Lancharam juntas num café e sentaram-se nos bancos do jardim a comer gelados. O dia estava calmo e suave.
- Tiveste muito medo no Hospital? - perguntou Maria.
- Não. A enfermeira era simpática e estava sempre comigo - riu.
Maria observou-a. Pensou para si própria como a sua irmã crescia. E como o tempo passava.
- Ela disse que eu fui atropelada por um carro, mas eu não lembro.
- É normal - confortou Maria acariciando o rosto da irmã.
- Ela também disse que sou muito forte - pausou e continuou - Será que ela sabia?
- Ela não se estava a referir a essa força, mas sim à da vontade. Quis dizer que és forte por dentro - Maria piscou o olho.
- Tu também és muito forte, mana - disse a pequena.
Ambas terminaram o gelado e levantaram-se dos bancos. De volta, pelo mesmo caminho, Maria distraíu-se enquanto que um rapaz cheio de roupa e de pressa embateu sem querer nelas. As roupas espalharam-se pelo chão. Umas chaves de automóvel caíram sobre os pés de Carolina.
- Peço imensa desculpa - disse Maria.
- Não... faz mal - balbuciou ele.
Carolina agachou-se e apanhou as chaves. Aproximou-se do rapaz e entregou-lhe-as. Maria sorriu para sua irmã e olhou para o rapaz.
- Obrigado... - agradeceu ele.
Sem explicação alguma, o rapaz agarrou as suas roupas violentamente e desapareceu a correr pelo caminho em segundos.
"Que estranho.", pensou Maria.
- O que tinha ele, mana? - perguntou Carolina.
- Pressa, muita pressa - disse - Vamos para casa.
Criado por Unknown
Clicar/Comentar (0)
@
0 comentários:
Enviar um comentário